Com o número anterior, o Trem de História encerrou a relação dos Expedicionários Leopoldinenses na certeza de que o assunto não foi esgotado, mas que se conseguiu prestar uma pequena homenagem pela passagem dos 70 Anos do final da Segunda Guerra Mundial.
Resta, para encerrar o assunto, falar um pouco sobre os prisioneiros de guerra, o final da Guerra e o retorno da tropa o Brasil.
Pouco se fala sobre os campos brasileiros de detenção de prisioneiros durante a Segunda Guerra Mundial. Mas eles existiram e em número bem maior do que se possa imaginar.
A partir da efetiva entrada na Guerra, o Brasil tratou de criar espaços para prisão de tripulantes de embarcações aprisionadas e de cidadãos alemães, italianos e japoneses suspeitos de atos favoráveis aos seus países de origem.
Os pesquisadores Diego Antonelli e Leandro dos Santos, na reportagem [1] “A cobra realmente fumou”, de 10 de agosto de 2015, contam que “Depois que o Brasil declarou guerra ao Eixo, o governo federal determinou que todo comércio de imigrantes (alemães, italianos e japoneses) fosse fiscalizado. Os rádios foram lacrados para não sintonizar emissoras estrangeiras. Muitos se viram intimados a comparecer a uma das Delegacias de Ordem Política e Social (DOPS). Foram detidos todos aqueles que falassem seu idioma natal e possuíssem rádios, armas, revistas ou livros em outro idioma que não o português”.
Assuntos ligados a estes presídios, e à Segunda Guerra Mundial de uma maneira geral, não foram divulgados até recentemente em razão de “uma lei que proibia consultas ou pesquisas por 50 anos [2]”.
Mas hoje, com base em informes disponíveis na grande rede [3], pode-se relacionar mais de uma dezena dessas prisões espalhadas por vários estados brasileiros, tais como: Minas Gerais: Pouso Alegre – onde foram reunidos os presos militares e os 62 marinheiros do navio Anneleise Essberger – presídio onde trabalhou o Expedicionário Leopoldinense, Luiz Leonel Ignácio da Silva; Pará: Tomé-Açu, que recebeu principalmente japoneses [4]; Pernambuco: Chã de Estevam, que abrigou empregados alemães da Cia Paulista de Tecidos, atual Casas Pernambucanas; Paraná: Curitiba e Ponta Grossa; Rio Grande do Sul: Daltro Filho; Rio de Janeiro: Ilha das Flores, no município de Niterói, onde os prisioneiros de guerra foram misturados aos detentos comuns, numa violação às leis internacionais; Santa Catarina: Joinvile, onde duas centenas de pessoas foram alocadas num hospício desativado e, Oscar Schneider, onde um hospital foi transformado em colônia penal; e, São Paulo:Bauru, Pirassununga, Ribeirão Preto, Guaratinguetá e Pindamonhangaba.
O Trem de História de hoje fica por aqui. Na próxima viagem ele trará o final da Segunda Guerra Mundial que este ano completou seu septuagésimo aniversário. Até a próxima edição.
[1] ANTONELLI, Diego e SANTOS, Leandro. A cobra realmente fumou. Disponível em <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/especiais/pracinhas-na-segunda-guerra/a-cobra-realmente-fumou.jpp> Acesso em 17 out. 2015
[2] RIBEIRO, Keila e SALGUEIRO, Isabela. Brasil teve campos de concentração em 1942. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u43301.shtml> Acesso em 14.06.15.
[3] Noite Sinistra. O Brasil também teve campos de concentração na Segunda guerra Mundial. Disponível em <http://noitesinistra.blogspot.com.br/2013/09/o-brasil-tambem-teve-campos-de.html#.VX4auflViko> Acesso em 14.06.15.
[4] Tomé-Açu surgiu como povoado com a implantação da Companhia Nipônica de Plantação do Brasil em 1929, na Fazenda Bela Vista, quando chegaram as primeiras famílias que se dedicaram ao plantio do arroz e hortaliças. Em 1933 chegam, pelas mãos de mais imigrantes japoneses, as primeiras mudas de pimenta-do-reino que fizeram da cidade a maior produtora mundial da especiaria. Por ocasião da Segunda Guerra Mundial ali se instalou um dos presídios de imigrantes, principalmente japoneses, vistos como possíveis agentes infiltrados. Com o fim da Guerra, as terras da antiga Fazenda Bela Vista foram transformadas na Colônia Estadual de Tomé-Açu. Hoje, além da pimenta-do-reino, Tomé-Açu se destaca por ser grande produtora de polpa de frutas.
Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado no jornal Leopoldinense de 16 de novembro de 2015