O Caminho Novo em Santos Dumont


 

A partir de um conjunto de slides, Luiz Mauro Andrade da Fonseca apresentou diversos mapas que nos ajudaram a localizar a região objeto de seus estudos. Iniciou mostrando o percurso do Caminho Velho, passando pelo Sul de Minas, indo para São João del Rei e seguindo para Ouro Preto. Em seguida reiterou, conforme dissera Francisco Eduardo de Andrade, que foram diversos os ‘abridores’ do Caminho Novo, os quais se utilizaram de picadas abertas pelos índios e remodelaram o percurso do Rio de Janeiro a Ouro Preto, ‘encurtando consideravelmente a viagem’. Para percorrer o Caminho Velho, de Parati a Ouro Preto, eram necessários entre 75 e 90 dias.

Fonseca explicou que a temática do encontro seria analisar o trecho do Caminho Novo de Simão Pereira a Alfredo Vasconcelos, passando pela zona da mata mineira e adentrando a zona das vertentes. Destacou, no mapa, as localidades de Simão Pereira, Matias Barbosa, Juiz de Fora, Ewbanck da Câmara, Santos Dumont, Antônio Carlos, Barbacena e Alfredo Vasconcelos.

Lembrou que o Programa Estrada Real, do Governo de Minas Gerais, tem por objetivo incentivar especialmente a indústria do Turismo, deixando lacunas significativas no que concerne aos estudos históricos e geográficos que permitiriam um conhecimento mais amplo do que seja a Estrada Real.

‘Os índios foram os autores dos caminhos, tanto o Velho como o Novo, aproveitados pelos bandeiristas’ em suas incursões pela terra mineira que inicialmente foram motivadas pelas tentativas de captura dos povos nativos, declarou Fonseca. Numa cartografia de 1777, indicou o Caminho Velho e a seguir dedicou-se ao trecho do Caminho Novo que atravessa o atual município de Santos Dumont, mencionando as consultas realizadas a estudiosos do assunto e suas visitas aos locais, fazendo diversas fotografias.

Segundo o professor Fonseca, a melhor descrição que encontrou daquele percurso foi a de Costa Matoso, autor que menciona o Sítio do Luiz Ferreira, atualmente Ewbanck da Câmara, o Sítio do Pedro Alves, local atualmente conhecido por Francesa, a Rocinha e Sítio de João Gomes, o Sítio de Pinho Velho, Pinho Novo e o Sítio da Mantiqueira. Estas localidades foram indicadas no mapa.

Um dos pontos altos da comunicação de Luiz Mauro da Fonseca foi a apresentação de um Mapa Temático, de 1991, cujo autor nasceu em Santos Dumont. Este trabalho apresenta a região a partir de Chapéu d’Uvas, atualmente unido a Paula Lima, distrito de Juiz de Fora.

Nas diversas fotografias, Fonseca chamou a atenção para a multiplicidade de ‘trilhas’ que certamente pertenceram ao Caminho Novo, desmistificando a impressão de que seria um único percurso e demonstrando que existiam muitas variantes. Ressaltou que é praticamente impossível, atualmente, identificar a rota original, uma vez que alternativas foram sendo abertas no decorrer do tempo. Importante, pois, mostrar a direção pela qual o Caminho seguia. No caso, a direção de Ewbanck da Câmara para Santos Dumont e depois para Barbacena.

Indicar a Estrada de Ferro Central do Brasil foi um facilitador, uma vez que a ferrovia tem um traçado bem próximo ao do Caminho Novo, ladeando-o quase sempre. Foram apresentadas, também, fotografias de antigas fazendas da região citadas pelos viajantes estrangeiros. Algumas estão preservadas, outras nem tanto. Numa das imagens pudemos ver um Marco da Estrada Real e bem ao lado uma das trilhas que compuseram o Caminho Novo.

O professor Luiz Mauro foi muito feliz em sua Comunicação, utilizando recursos didáticos que prenderam a atenção e ajudaram a acompanhar sua fala. Esperemos que ele envie uma cópia dos slides para que possam ser aqui publicados.

Quando chegou à area urbana de Santos Dumont, Fonseca apresentou antigas fotografias da cidade com seus casarões imponentes, alguns tombados pelo Patrimônio Municipal durante sua gestão à frente daquele órgão.

Prosseguindo, outras fotografias do Caminho Novo em direção à Fazenda Mantiqueira, a mais famosa de Santos Dumont. Sempre seguindo pelo caminho dos tropeiros, por onde passaram todos os viajantes estrangeiros que deixaram obras descritivas bastante variadas.

As fotografias da Fazenda Mantiqueira demonstraram o excelente estado de conservação em que se encontra. A propriedade pertenceu a Silvestre Dias de Sá e mais tarde ao inconfidente José Aires Gomes.

Depois da Mantiqueira, sobe-se a serra para chegar à Fazenda do Registro, que se encontra abandonada e precisando de socorro. Deste trecho foi apresentada uma fotografia com partes do calçamento que ali existiu, além de imagens panorâmicas da zona da mata, com muitas araucárias, vistas já a meio caminho para a região denominada ‘Campo’, de onde veio o topônimo Borda do Campo. Também foi possível ver o que resta de chafarizes, incluindo o denominado D. Pedro II. Uma das imagens mais significativas, entretanto, mostra a transição entre a mata e o campo, numa paisagem realmente muito bonita.

Luiz Mauro Andrade da Fonseca, além de médico e professor, faz parte do grupo Pesquisadores Independentes de Barbacena e Santos Dumont de grande atividade desde a década de 1990. É também membro do Centro de Memória Belisário Pena, de Barbacena, uma das entidades promotoras deste primeiro Encontro de Pesquisadores de História e Geografia do Caminho Novo da Estrada Real. É, ainda, autor de uma obra sobre a história de Padre Correia de Almeida, município vizinho a Barbacena.

8 opiniões sobre “O Caminho Novo em Santos Dumont”

  1. Permita-me, José Roberto, ampliar a discussão. Creio que será saudável para as pessoas que estão acompanhando os resumos que fiz do Encontro de Barbacena.Baseando-me em algumas declarações de Le Goff (um dos meus ídolos), creio que os acadêmicos possam mesmo ter dificuldade de adaptar sua produção intelectual para os meios de comunicação acessíveis ao grande público. Entretanto, tenho observado um outro óbice: eles dependem da profissão acadêmica para sobreviver e não dispõem de tempo para arriscar num empreendimento que talvez não traga o retorno financeiro esperado. Os mencionados campeões de vendagem são minoria e alguns já declararam, publicamente, que não foi fácil convencer editores.Ainda hoje pretendo publicar o resumo da comunicação do professor Ângelo Carrara e você verá que a academia tem interesse em solidificar relações com o público leigo, especialmente com os professores de ensino fundamental e administradores municipais, no sentido de incluir o estudo de história local nos programas de ensino.

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  2. Caríssima Nilza, sim terá realmente razão no que expõe, relativo ao distanciamento entre o produto acadêmico e o grande público. E, realmente, a linguagem técnica empregada é de difícil compreensão para os leitos, o público em geral.Evidente que entendendo que o resultado das pesquisas acadêmicas é quase exclusivamente para os diversificados graus acadêmicos e graduações e etc, não há, infelizmente, uma preocupação de nenhum autor de adaptar seus trabalhos para o conhecimento leigo, o que seria altamente benéfico. Os recentes campeões de venda de livros, na área da temática histórica, por exemplo, 1808 (descartando-se, claro, os exageros), são exemplos salutares dessa prática desprezada em grande parte pelos acadêmicos ou, mesmo (dou minha mão, em parte, a palmatória), tenham estes a dificuldade de ‘amenizar” a linguagem que, habitualmente, utilizam.Em tudo, porém, felizmente, tem-se pesquisado e produzido estudos sobre nossa memória.

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  3. Meu caro José Roberto, nossos objetivos estão sempre se encontrando. Eu só discordo de vc no que se refere aos estudos acadêmicos. Acho que se preocupam sim, com os problemas cotidianos, e buscam estudá-los para produzir conhecimento que possa promover mudanças. A divulgação do resultado das pesquisas é que não chega ao grande público. Os motivos são muitos e talvez o principal seja a distância entre a linguagem utilizada nos trabalhos e o domínio da língua pelas pessoas comuns. São estoques vocabulares diferentes e muitas vezes é necessário 'traduzi-los' para compreensão pelos leigos. Talvez aí esteja o nicho preferencial de atuação para pessoas como nós, que buscamos fazer a ponte entre o que é produzido na academia e os leitores comuns. E certamente este é o ponto forte do Encontro de Barbacena, por ter reunido acadêmicos e estudiosos leigos com o mesmo objetivo de difusão do conhecimento.

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  4. Com certeza, Nilza. Infelizmente, a história regional, tão ligada a realidade do cidadão, e ele sofrendo as consequências dela no seu cotidiano, é absolutamente desprezada pelos estudos acadêmicos. Porém, felizmente, pessoas como você vem se dedicado, com seriedade e sem bairrismo, não somente a seu resgate e preservação, mas a sua difusão. Se o Caminho Novo trouxe transformações históricas a nível nacional, trouxe também profundas transformações a cada região em que seu leito percorreu. Nasceram fazendas, povoados, cidades. Defendo e sempre defendi que a história local e regional é, se não o principal, um dos maiores sustentáculos da auto-estima do cidadão e laço de ligação dele a sua terra de origem.

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  5. Exato, José Roberto. Precisamos divulgar os novos estudos para ampliar o conhecimento de todos. Por isto o Encontro realizado em Barbacena merece nossos elogios, você não acha?

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  6. De fato os bandeirante sempre utilizaram as trilhas indígenas para suas incursões pelos sertões brasileiros. No caso do Caminho Novo, que é objeto do estudo acima, lembro-me que Capistrano de Abreu já há muito afirmou isso, inclusive efetuando estudos de campo na região de Paraíba do Sul, para comprovar o uso das trilhas indígenas para a abertura de vias de penetração para o interior. O que se precisa, e vejo que estão a fazer, é exatamente enfatizar isso, divulgar principalmente.

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