Teatro em Leopoldina

A partir de uma informação de Natania Nogueira, surgiu uma questão sobre o ator Manuel del Valle Alonso que teria vivido em Leopoldina. Agradeço à Natania por ter levantado o assunto e à Joana Capella que, com suas leituras do jornal O Leopoldinense, levou-me a procurar um texto antigo que ainda não havia publicado pela internet.
O Cine Theatro Alencar, cujo prédio ainda pode ser visto na rua Cotegipe, é tido como a primeira casa de espetáculos existente em Leopoldina. Entretanto, parece que não é bem assim.

No livro O Rio Antigo – Pitoresco & Musical, de C. Carlos J. Wehrs, à página 177 encontramos:

“O teatro, o  prédio, eu o sempre olhava com certo receio, porque não acreditava na sua estabilidade. Era uma imensa casa de pau-a-pique, dividida em galerias e camarotes em torno da platéia, e, embaixo, constituída de cadeiras e bancos.” 

O autor está descrevendo o período que passou em Leopoldina, entre setembro e novembro de 1886.  Estaria se referindo ao primeiro prédio, posteriormente substituído pelo que ainda subsiste?

Segundo memórias familiares,  o prédio da rua Cotegipe teria sido construído pelo imigrante espanhol Salvador Rodrigues Y Rodriguez por volta de 1927 e as poltronas teriam sido obra do irmão de Salvador, Raphael Rodrigues Y Rodriguez. Portanto, não poderia ser o mesmo prédio objeto de menção no livro de Atas da Câmara de Leopoldina, relativo ao período de 1879 a 1881, em cuja folha 29 verso consta que no dia 16 de abril de 1880 foi lido um oficio de João Patricio de Moura e Silva, comunicando que renunciava ao direito, posse e domínio sobre o terreno que lhe pertencia, e que localizava-se entre Pereira Lopes & Guimarães e Luiza Ambrosia, para nele se construir um Theatro.

Se Moura e Silva falava em construir um Teatro em abril de 1880, estaria se referindo ao prédio mencionado em novembro do mesmo ano, conforme anúncio do jornal O Leopoldinense lembrado por Joana Capella?

Segundo esta divulgação, na página 3 da edição de 1 de novembro de 1880, João Manoel Ferreira Brandão levaria à cena, pela primeira vez em Leopoldina, a peça Helena. O endereço do Theatro Brandão: rua Sete de Setembro.

O diretor da companhia nasceu por volta de 1852, filho de Domiciano Ferreira Brandão e Francisca Angélica da Conceição, tendo vivido em Leopoldina até seu falecimento em 1895. Seu pai aparece no alistamento eleitoral do município a partir de 1874 e ele, João Manoel, foi alistado em 1892, conforme livros de Alistamento Eleitoral de Leopoldina para o período.

A irmã do diretor, Belmira Maria da Conceição, nasceu em Piacatuba e em janeiro de 1878 casou-se, em Leopoldina, com José Vitor de Oliveira e Maria Teresa de Jesus.

Interessante lembrar que a rua Sete de Setembo, que liga as praças Gama Cerqueira e Professor Botelho Reis, é uma das mais antigas da cidade e a única que permanece com o nome original. Nela residiram o Dr. Carvalho de Rezende e o advogado Francisco Pinheiro de Lacerda Werneck, conforme apuramos na pesquisa para o livro Nossas ruas, nossa gente: ruas, praças e logradouros de Leopoldina, publicado em 2004. Na esquina desta rua com a Tiradentes, existiu a casa de negócio de Pedro Barra. Na outra esquina, também faceando com a rua Tiradentes no percurso em que se dirige para o Largo do Rosário, foi instalado o primeiro Grupo Escolar que reunia as “aulas públicas” então existentes. Esta instituição de ensino posteriormente passou a chamar-se Grupo Escolar Ribeiro Junqueira e em 1914 o poeta Augusto dos Anjos foi nomeado seu diretor.

Parece que o Teatro Brandão não teria sido o único em funcionamento naquele ano de 1880. Na mesma página d’O Leopoldinense encontramos o seguinte anúncio:

Em outras edições dos periódicos locais foram publicados anúncios de óperas, confirmando informações obtidas junto a antigos moradores entrevistados, os quais mencionaram que suas famílias frequentavam o teatro.

Acreditamos, portanto, que Leopoldina contava com programação teatral frequente, resultando em que, 20 anos após o sepultamento do ator espanhol Manoel Del Valle em 1906, foi concedido privilégio perpétuo do túmulo, conforme descobriu a professora Natania Nogueira em pesquisa realizada num livro que transcreve os atos da Câmara Municipal de Leopoldina em 1926. Observamos, pois, que a presença do ator em Leopoldina não foi excepcional, já que antes dele a cidade contou com outros artistas do gênero.

2 opiniões sobre “Teatro em Leopoldina”

  1. Prezado, gostei da matéria. Acho que o Theatro alencar já existia . O Sr. Rodriguez comprou o imovel da Prefeitura em 1927 (16/03) já com o nome Theatro Alencar, tendo reformado e garantido sua reinaguração em junho daquele ano. Recomendo uma leitura da Lei no. 412, de 16/03/1927, de Leopoldina. Isto foi publicado no Jornal Gazeta de Leopoldina de 18/03/1927. Espero ter contribuido com sua excelente matéria.

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    1. Sim, Ismar. Vc leu apenas uma das matérias a respeito. Veja o nosso texto sobre a inauguração em https://cantoni.pro.br/2013/01/19/inauguracao-do-theatro-alencar/. Publicamos diversos outros materiais sobre o assunto que você pode ler usando o box de pesquisa no site. Há, também, a monografia de Alan Villela Barroso cujo resumo você pode ver em https://cantoni.pro.br/2020/02/01/o-theatro-alencar-e-as-companhias-dramaticas-em-leopoldina/ e o material completo está disponível no site do autor: https://theatroalencar.wordpress.com/

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