
Participaram: Julio Cesar Vanni, de Pequeri; Rosalina Pinto Moreira, de Astolfo Dutra; Joana Capella, de Cataguases; Luja Machado e Nilza Cantoni. Após o programa, um almoço em Piacatuba encerrou o Encontro.


Participaram: Julio Cesar Vanni, de Pequeri; Rosalina Pinto Moreira, de Astolfo Dutra; Joana Capella, de Cataguases; Luja Machado e Nilza Cantoni. Após o programa, um almoço em Piacatuba encerrou o Encontro.

– Júlio César Vanni, com diversos livros publicados sobre a imigração italiana, especialmente em sua cidade natal, Pequeri;– Rosalina Pinto Moreira, autora de Imigrantes… Reverência!, sobre a Colônia Santa Maria de Astolfo Dutra;– Joana Capella, autora de Exma. Família Abritta sobre seus antepassados italianos e pesquisadora da Colônia Major Vieira, de Cataguases;– Luja Machado e Nilza Cantoni, pesquisadores da Colônia Agrícola da Constança, de Leopoldina.
Será no próximo sábado, dia 20, no programa Faz da Rádio Jornal, das 10 ao meio dia, a homenagem ao Imigrante Italiano.
O programa da Rádio Jornal AM 1560 pode ser acompanhado também pela internet.
“Quem estudar acuradamente o quatriennio-Bias Fortes verificará, sem esforço, a infecundidade, a inanidade desse periodo governamental. Em materia de economia politica o que elle fez de mais notavel foi supprimir o serviço de immigração, aliás dispendiosissimo e oneroso aos cofres estaduaes, sem cogitar da colonização[…]”
A Lei federal nº 11.687, de 02.06.2008, instituiu o dia 21 de Fevereiro como data nacional para lembrar a imigração italiana. Parece que não estão dando muita atenção para esta lei em Leopoldina.
Júlio Vanni, jornalista, historiador de Pequeri-MG onde foi Prefeito, ex aluno do Ginásio Leopoldinense, com diversos livros publicados sobre a imigração italiana e um dos artífices da festa anual realizada naquela cidade em homenagem aos imigrantes que ali viveram.
Rosalina Pinto Moreira, professora, historiadora, autora de Imigrantes… Reverência, sobre a Colônia Santa Maria, da cidade de Astolfo Dutra, atualmente concluindo outra obra sobre a história do município.
Luja Machado e Nilza Cantoni, historiadores, membros da Academia Leopoldinense de Letras e Artes, autores de coluna sobre a Colônia Agrícola da Constança no jornal Leopoldinense.
Convidamos a todos para ouvirem o programa da Rádio Jornal AM 1560, que pode ser acompanhado pela internet.
É sempre oportuno lembrar que, embora a Constança tenha sido oficializada no dia 10 de abril de 1910, a maioria dos colonos já vivia em Leopoldina há bastante tempo. Entre os adquirentes dos lotes, muitos chegaram ao Brasil entre 1888 e 1895. E embora tenha havido uma certa dispersão pelo município, observamos a formação de uma comunidade bastante representativa dentro da população local. Entre outros indicativos para esta conclusão, temos o compadrio que surge nos livros paroquiais. A região onde existiu a Colônia Santo Antônio, e depois a Constança, tornou-se quase uma área urbana em função dos imigrantes que ali viveram.
Conforme temos citado algumas vezes, o sentimento de nacionalidade entre os italianos nasceu da consciência, já no estrangeiro, de que procediam de um mesmo país. Um relatório do Comissariado para a Emigração italiano, de 1926, menciona diversas formas de exploração a que foram submetidos os candidatos a deixarem o país, desde as últimas décadas do século XIX. São citados casos de emigrantes encaminhados para lugar diferente daquele ao qual pretendiam ir, fato de que só tomaram conhecimento quando desembarcaram. E a falta de serviços assistenciais, por parte da Itália, obrigou os emigrantes a se unirem e se organizarem. Ou seja: italianizaram-se em terra estrangeira.
Della emigrazione e del pauperismo, obra de Ernesto Comucci publicada em 1885, é citada por diversos autores como referência para o efeito da nostalgia na saúde mental do emigrante que, sentindo-se solitário em terra estrangeira, vê o sonho de prosperidade se diluir na dura realidade. Se para alguns isto resultou em profunda mágoa da terra natal, por considerarem-se expulsos, em outros casos o desequilíbrio mental foi muito grave, extraindo-o completamente do convívio social. Há relatos, pelo interior do Brasil, de inadaptação de “nostálgicos” mesmo quando vivendo próximo a outros italianos. E aí está o segundo problema.
Sabe-se que os camponeses que emigraram no final do século XIX não eram propriamente italianos como entendemos hoje. Nos primeiros tempos após a unificação, só uma pequena parcela da população – a elite, estendeu o sentimento de nacionalidade para além do território do estado a que pertenceu até então. Os demais continuaram se sentido calabreses, lombardos ou sicilianos muito mais do que italianos. Antigos jornais mencionam um político que teria declarado que a “Italia foi construída e agora precisamos construir os italianos”.
Ainda seguindo opiniões populares, do Piemonte teria sido irradiada a “italianização” que não atingiu os camponeses porque logo emigraram. Donde os nossos imigrantes não se reconheciam como parte de uma comunidade nativa, quando instalados em colônias onde viviam naturais de outras regiões da sua terra natal.
Abordamos ligeiramente o assunto no texto “O Sentimento de Nacionalidade Italiana” publicado em janeiro de 2007. Sem, contudo, mencionar o desabafo de um descendente sobre a tristeza de seus avós por conviverem com pessoas de hábitos culturais diferentes, embora todos provenientes do “mezzogiorno”. Para o informante, o desequilíbrio mental de um parente próximo seria “hereditário” e acrescentou que seus tios também sentiam profunda saudade do “paese” onde nasceram.
De fato não são poucas as referências, nas entrevistas que realizamos, à dureza imposta pelos imigrantes a si e à família, tendo em vista amealhar uma poupança que permitisse adquirir um pedaço de terra. Conforme já mencionamos, no início poderiam pensar em voltar para a Italia e se estabelecerem em melhores condições, a partir da poupança feita aqui no Brasil. Entretanto, não temos dados que nos permitam abordar o decréscimo da condição física em função dos sacrifícios a que se submeteram. Sabemos, sim, de perda de visão ou de algum membro. Entretanto, desconhecemos a causa e por isto não podemos imputar o fato a determinada prática ou comportamento.
Lemos referências a óbitos causados pela mesma situação, ou seja, determinados pelo excesso de trabalho em condições adversas. No que toca a Leopoldina, temos um caso de óbito considerado como resultado de trabalho no brejo, cultivando arroz. Entretanto, analisando a trajetória do falecido, descobrimos que no final de todas as tardes ele se dirigia para a “venda”, um estabelecimento comercial próximo do local de residência. Ali o imigrante passava muitas horas bebendo, indo para casa já com noite fechada. Quase sempre chegava com o vestuário bastante úmido pelo sereno. E, bêbado, não cuidava de trocar a vestimenta e aquecer-se adequadamente. Tampouco permitia que a mulher interferisse. Nos primeiros tempos, quando ela insistia em fazê-lo trocar de roupa e tomar um chá quente, o imigrante costumava agredi-la verbal e fisicamente.
Passados alguns anos, este imigrante começou a apresentar características de tuberculose mas não buscou tratar-se. Pelo contrário, mudou-se para o sítio do sogro onde foi plantar arroz. Ao fim de 10 anos de casado, foi a óbito. Na memória familiar, ficou a informação de que a causa foi o trabalho no brejo.
A obra Delle Colonie e delle Emigrazioni, de Leone Carpi, publicada em 1874 em Milão, é fonte de consulta obrigatória. Entre outros, é citada no trabalho de Ercole Choate numa referência à carta do cônsul italiano do Rio, em 1872, relatando que a tendência do emigrante italiano era ficar no Brasil por um período entre 3 e 6 anos, acumulando uma poupança que permitisse voltar à terra natal e lá adquirir seu próprio pedaço de terra.
No texto O Sonho de ser Proprietário, em nossa coluna no jornal Leopoldinense, abordamos a tradução do sentimento dos colonos italianos de obter a liberdade através da compra de um lote. Parece que, chegando aqui com a ideia de retornar no período indicado pelo cônsul mencionado por Carpi, outros fatores os tenham convencido de que seria melhor adotar o Brasil como pátria de seus descendentes. Encontramos poucos casos de colonos que voltaram para a Italia. A maioria aqui permaneceu e faz parte da história familiar de inúmeros moradores de Leopoldina.
Além dos que convencia, havia ainda os que tivessem sido estimulados pelas cartas de parentes ou amigos que já estivessem morando no Brasil e que o procuravam para embarcar com despesas subvencionadas. O que não significa que o candidato ficasse dispensado de inúmeros custos de preparação da viagem.
A disssertação de mestrado de Christiano Eduardo Ferreira, defendida em 2005 na Universidade Estadual de Campinas, permitiu conhecer alguns aspectos do problema da imigração para o Brasil. Além disso, forneceu indicações bibliográficas preciosas que nos fizeram caminhar até o trabalho de Mariano Rocco, do qual extraímos a conclusão de que os agentes de imigração exploravam a ingenuidade, o estado de abatimento moral e a esperança do candidato, levando-o a pagar por serviços que deveriam ser gratuitos. E não são raros os textos que mencionam as péssimas condições oferecidas ao candidato e sua família, nas pensões onde era obrigado a hospedar-se para aguardar o embarque.
Além da divulgação feita pelos agentes de emigração e das cartas recebidas, durante a prestação do serviço militar poderia ser tomada a decisão de deixar o país. Naqueles 18 meses em que era obrigado a viver numa grande cidade, o jovem travava conhecimento com uma realidade até então insuspeita e, naturalmente, sonhava alternativas para melhorar de vida. Adicionalmente, para o bem e para o mal a temporada poderia transformar o soldado num propagandista de um mundo desconhecido entre os seus. Nada muito diferente do que ocorre atualmente. Com a diferença de estarmos tratando de um momento na vida do italiano mais pobre em que quase tudo lhe era inacessível.
No discurso do político nacionalista Enrico Corradini, do início do século XX, há uma passagem exortando os italianos a impedirem que os nacionais, herdeiros dos conquistadores romanos, viessem executar o trabalho servil, substituindo os escravos nas fazendas brasileiras. Não sabemos se o político teve algum sucesso. Por outro lado, sabemos que muitos italianos, já vivendo no Brasil, transformaram-se em um outro tipo de agente: seja por carta ou em viagens à Italia, arregimentavam outros emigrantes em troca de remuneração que lhes pagavam as Companhias de Navegação.