139 – Pelos Caminhos da Colônia

O Trem de História convida o leitor para uma viagem imaginária pela Colônia Agrícola da Constança. Inicialmente em busca de compreender o motivo pelo qual ela herdou o nome da fazenda Constança e teve sua sede instalada na fazenda Boa Sorte.

Importante compreender que eram outras as estradas ou, os caminhos que serviam às duas fazendas vizinhas, cujas sedes eram relativamente próximas, se consideradas as alternativas de deslocamento daquela época.

Ressalte-se, ainda, o fato de que da estação ferroviária de Leopoldina se chegava com muito mais facilidade à Boa Sorte do que à Constança, antes da abertura da Rio-Bahia na década de 1930.

Até então era difícil a transposição do vale dos Puris, por onde desce o Córrego da Onça que hoje cruza a BR-116 no km 771. Como também era difícil vencer as escarpas do estreito por onde passa o Córrego Água Espalhada, local que os imigrantes italianos e os tebanos mais antigos chamavam de Buraco do Cubu[1]. E não menos problemático era, após vencer estes obstáculos, construir uma estrada transitável durante o período de chuvas sobre o alagadiço que deu nome ao Córrego Água Espalhada, no km 773 da mesma rodovia, no local onde está o “Restaurante Seta”.

Por outro lado, pela estrada da Boa Sorte se chegava primeiro e com menor esforço, às terras da Constança.

Outro fato que merece explicação é o que se refere à localização de alguns lotes. A visão do traçado da Colônia, a partir da realidade das novas rodovias, é também um dos complicadores para se entender a localização dos lotes que hoje são de difícil acesso. Ocorre que muitos deles, quando foram demarcados, eram servidos por estrada de trânsito normal ou até intenso, que posteriormente foram abandonadas em função de novas opções e interesses.

Outro fato que hoje parece estranho, mas que pode ser explicado com facilidade, é o número de colonos da fazenda Paraíso que adquiriram lotes na Colônia Agrícola da Constança.

Já se falou noutros artigos que muitas propriedades foram vendidas por outros fazendeiros aos colonos porque eles viam nessa prática uma forma de o imigrante realizar o sonho de se tornar sitiante, ao mesmo tempo em que a fazenda garantia uma reserva de mão de obra nas suas proximidades. O que deu origem a muitos dos núcleos de imigrantes existentes no município.

Os lotes da Colônia Agrícola da Constança não se encaixam exatamente nesse perfil de venda. Entretanto, na aquisição de partes de fazendas para formar o território da Colônia, ficou determinado que ela abrigaria, também, colonos oriundos dessas propriedades adquiridas.

Além disto, considerando o caminho hoje inexistente, que descia da Paraíso nas imediações da “Água Espalhada”, a distância entre a Colônia e a sede da citada fazenda não era grande, ainda mais para os padrões daquela época.

Para compreender o acesso à Colônia, não se pode esquecer da Capela de Santo Antônio, na Onça, construída entre 1912 e 1915, estrategicamente localizada no percurso natural do imigrante, viesse ele da Boa Sorte ou da Constança em direção à cidade ou, simplesmente para orar ao seu Santo Protetor.

É bom registrar que no fundo do galpão de leilões, ao lado da Igrejinha, existia no ano de 1943 uma escola rural. Na segunda metade dos anos de 1950, com a instalação em Leopoldina do projeto piloto que propunha a erradicação do analfabetismo no Brasil, foi construído um prédio no pátio fronteiro à Igrejinha, ali passando a funcionar a Escola Singular Rural que a Lei Municipal nº 936, de 17.10.1973, deu o nome de “Carlos de Almeida” em homenagem a este ruralista que, em conjunto com os imigrantes que então habitavam a Colônia, trabalhou na construção da Igreja.

Recorde-se que o trânsito da produção da Colônia trazida para a cidade era realizado por antiga via que teve alguns de seus trechos aproveitados no traçado da BR 116, a Rio-Bahia, construída no final dos anos de 1930.

Neste percurso, numa remodelação da rodovia em meados do século XX, alguns trechos da velha estrada de terra permaneceram com menor utilização. Dentre eles está a ligação entre a Igreja de Santo Antônio e o ponto em que a estrada da Boa Sorte encontra-se com a BR 116. Hoje esse trecho se tornou uma via importante, é o Caminho do Imigrante, usado pelos moradores do local, por pedestres, ciclistas e cavaleiros que, procedentes da Boa Sorte dirigem-se à Igreja, à cidade e ao ponto final do ônibus urbano, no Posto Puris.

Por hoje o Trem de História fica por aqui. Na próxima viagem virá o histórico da fazenda que emprestou o nome à Colônia. Até lá!

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 392 no jornal Leopoldinense de 16 de novembro de 2019

Nota:

1 - Cubu é um bolo ou broa de fubá assado no formato do pão de cachorro quente.

12 opiniões sobre “139 – Pelos Caminhos da Colônia”

  1. Boa noite, Nilza.
    Venho aqui informar que, graças a tua ajuda, em menos de 10 dias, já estou de posse da certidão de casamento dos meus bisavós.
    Muito obrigado!
    Leonardo Finamore.

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  2. Olá Nilza, bom dia! Parabéns pelo excelente trabalho de pesquisa envolvendo a cidade de Leopoldina e seus distritos, e obrigado por compartilhar teu trabalho conosco.
    Estou em busca do registro de casamento dos meus bisavós JOÃO BATISTA FINAMORE e HELENA DA COSTA FINAMORE, com data provável de 1900 ou anterior a isso (tendo como referência a data de nascimento de seu filho mais velho, Jan/1901). Na certidão de inteiro teor de nascimento do meu avô consta que eles “casaram-se civilmente no distrito de Campo Limpo, município da cidade Leopoldina”. Poderia me ajudar?
    Agradeço desde já!

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    1. Olá, Leonardo: o casamento de seus bisavós está no livro A misto fls 67 do Cartório de Registro Civil de Ribeiro Junqueira, o distrito de Leopoldina que se chamava Campo Limpo. Foi realizado no dia 21 de agosto de 1893. Mas informações orais indicam que eles moravam além da divisa com o então distrito de Recreio, de onde não tenho informações para o período.

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      1. Olá, Nilza! Muito obrigado pelas informações! Já estou em contato com o cartório de Ribeiro Junqueira para solicitar a certidão. Tua ajuda foi fundamental! Parabéns pelo excelente trabalho, e por compartilhar tanta história conosco.
        Você tem algum material específico sobre os Finamore’s? Tem ideia do ano que eles vieram para o Brasil e por qual porto chegaram? Essas informações orais, por exemplo, são frutos de entrevistas com moradores antigos? Tem algum outro detalhe adicional?
        Sobre o local de residência dos meus bisavós, sei que por volta de 1915 (ano de nascimento do meu avô) eles moravam em Laranjal, e por lá ficaram até pelo menos 1945 (ano de nascimento do meu pai). Posteriormente, fixaram residência em Itapiruçu, distrito de Cisneiros, onde meu bisavô veio a falecer por volta de 1955.
        Mais uma vez, muito obrigado!

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      2. Leonardo: agradecemos pela gentileza de suas palavras. Gostaríamos de poder ajudá-lo mas nosso estudo sobre a imigração começou pelos que foram referidos em fontes documentais de Leopoldina, nas quais só encontramos referência aos Finamore/Finamori pelo casamento do João Batista. Mais tarde, através de uma descendente que entrou em contato, soubemos que eles não viveram na área de nossa pesquisa. Nada mais sabemos sobre eles.

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      3. Olá Nilza, boa tarde!
        Estou aqui de volta para avisar que o Cartório de Ribeiro Junqueira/Leopoldina localizou o documento solicitado. Houve apenas uma questão do Livro, pois, segundo informação do cartório, está nos livros 1 e 2 (talvez tenha sido isso que você mencionou de livro misto). Sendo assim, solicito desconsiderar minha última mensagem, de hoje às 11:02h, mas a de ontem, às 22:13h continua válida, ok?
        Muito obrigado e bom final de semana!
        Att,
        Leonardo Finamore

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  3. Olá Nilza.

    Agradeço suas respostas às minhas inquietações.

    Olá Nilza.

    Agradeço pelas suas respostas às minhas indagações. Para Minas não existe pesquisadora de migração italiana melhor que você. Gostaria se tiver informações para me dar, agradeceria.

    Minha Bisavó era Maria Caloini morreu em São Joaquim da Barra

    É possível verificar para onde foi essa família?

    E se é a mesma do Arquivo Scaloini que veio em 1891?

    Minha bisavó era Maria Caloini(Dal Sasso), casada com Danielle ou Damelli Caloini . Minha avó Amélia. Tinha uma tia Adélia. Gostaria de saber a Comune de origem. Devem ser meus parentes…. Amélia, Adelia, Luigia, Rosa….eram nomes da família….

    Abraço

    Edna Maria Campanhol

    CALOINI Giovanni – 44 anos CALOINI

    Sobrenome

    CALOINI

    Livro

    SA-867 pag.: 51

    Data

    09/11/1894 (Data de entrada na Hospedaria)

    Nacionalidade

    Italiana

    Dependentes

    CALOINI Elisabetta – 42 anos – mulher CALOINI Rosa – 16 anos – filha CALOINI Pietro – 14 anos – filho CALOINI Adele – 11 anos – filha CALOINI Luigia – 8 anos – filha CALOINI Amelia – 3 anos – filha Obs.: Chamada de parentes.

    Embarcação

    Colombo

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    1. Agradecemos pelas gentis palavras, Edna. Mas nós só pesquisamos as famílias que foram para Leopoldina e entre eles não temos a família de seu interesse.
      Parece que vários passageiros do Colombo que desembarcaram no Rio em novembro de 1894 foram para Rio Novo.

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  4. Oi, Nilza. Bom dia.
    Estou fazendo uma pesquisa genealógica da minha família materna, que é da região de Piacatuba (Tebas) e Cataguases (Vargem Linda). Trata-se das famílias Dias e Oliveira (Valverde). Podemos falar a respeito? Obrigado e parabéns pelo trabalho.

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